Assim como muitos, também tive uma fase de aderir a uma religião. Da perspectiva de quem me conhece hoje, um espanto. Mas na verdade nunca fui um religioso convicto. Ao contrário, tudo me parecia por demais duvidoso, embora eu fizesse força para acreditar. Por fim, saí daquela igreja, me afastei dos amigos que fiz por lá, fechei aquela porta. Aquilo cheirava demais a dinheiro, esse era o problema. Não que eu não goste dele; apenas achava que o discurso não combinava com a prática - sim, eu era mais ingênuo do que sou hoje. No fundo, eu estava em busca de algo que não me parecesse contraditório, ao menos não de forma tão escandalosa assim. Meu ateísmo, que parece inato, juntou-se ao anticlericalismo adquirido na prática social. A suprema ingenuidade, entretanto, residiu na ilusão de que o chamado "mundo real" fosse menos pior - o que, cedo, pude comprovar que não.
Difícil crer em alguma coisa, hoje em dia. A única que sobrou, para não cair no paroxismo absoluto, é a crença na inviabilidade do gênero humano. Infelizmente, esta se confirma a cada momento, em cada notícia, em cada passo que arrisco por aí.