Blogue de um pretenso poeta, intelectual de cafeteria, reclamão de todas as horas e professor de Literatura por profissão (e, dizem, talento). Poemas e exercícios narrativos, crítica de cultura e maledicências ligeiras em tom farsesco. Tudo aqui é mentira.
31 de outubro de 2007
Comentário rápido, para não esquecer
Eu já disse que poetas são seres estranhos? Aqui estou eu, para que não digam que estou mentindo...
29 de outubro de 2007
Efeméride
E vocês sabiam que hoje foi o Dia Nacional do Livro? Pois é, nem o Lula. O que não é nenhuma surpresa vindo de alguém que comparou a leitura ao exercício numa esteira elétrica (ou bicicleta ergométrica, tanto faz): no começo é um saco, depois você percebe o quanto faz bem... Sem comentários!
Pode até não ser, mas...
Sabe quando, no trabalho, você é o último a saber das novidades? O que fica com o pior horário de entrada e de saída? O que é sempre deixado de fora em todas as conversas e situações? Pois é, não sei até onde é paranóia minha, mas que tem coisa aí, isso tem!
Não que eu esteja me importando com a situação de enjeitado, mas é foda todo mundo tomar as decisões e você - parte diretamente interessada - não ter a palavra, não poder emitir opinião, não nada.
Muito embora o clima para conversas minimamente intelectuais, ali, seja nenhum. Acho que se eu trabalhasse sozinho, numa sala cheia de samambaias, teria mais estímulo cerebral do que na atual conjuntura.
Resistirei ali mais do que três meses? Well, o que não fazemos por uns trocados, não é mesmo?
Não que eu esteja me importando com a situação de enjeitado, mas é foda todo mundo tomar as decisões e você - parte diretamente interessada - não ter a palavra, não poder emitir opinião, não nada.
Muito embora o clima para conversas minimamente intelectuais, ali, seja nenhum. Acho que se eu trabalhasse sozinho, numa sala cheia de samambaias, teria mais estímulo cerebral do que na atual conjuntura.
Resistirei ali mais do que três meses? Well, o que não fazemos por uns trocados, não é mesmo?
27 de outubro de 2007
Coisas particularmente irritantes
1. Corre por aí certa mania, entre profissionais do ensino e coordenadores (ou coisa que o valha), de se dirigir ao outro chamando-o de "professor". Assim:
- Você não acha isso, professor?
Mais ou menos como alguns fazem com garçons, lixeiros, comissários(as) de bordo e outras categorias. Odeio isso. Odeio que me chamem assim. Da próxima vez vou responder: "Escuta, você me conhece? Se sim, me chame pelo nome. Se não, antes de se dirigir a mim, pergunte como me chamo. Se não quiser se dar a esse trabalho, nem fale comigo. Poupa uma série de aborrecimentos: o seu, por ter de perguntar meu nome; o meu, de ter de falar com você." (A quem considere que eu esteja renegando minha própria categoria: não é o caso. Racionem: quando eu chamo o outro de "professor", eu estabeleço uma diferença entre mim e ele. Ou seja, eu não sou professor, o outro é. Sendo assim, reitero: ou me chamam por meu nome, ou me trate por "colega", que ao menos estabelece uma equanimidade - que não existe, eu sei, mas é o preço que se paga por viver socialmente. Claro que todas essas observações valem se o outro não for um fdp carreirista e sabotador. Aí é melhor deixar o doido continuar a falar sozinho ao telefone celular, ou seja o que estiver fazendo...)
2. Antigamente, havia um setor nas empresas que se chamava "Departamento de(o) Pessoal", com pequenas variações aqui e ali. Como parecia pouco simpático e eficiente, mudaram para "Setor de RH". Hoje, já falam em "Gerência de Relações Humanas", "Gerência de Pessoas", o escambau. Claro que só mudou o nome, já que a putaria continua a mesma - se não pior. Agora, de todas essas modas administrativas, a que mais me torra a paciência é a boiolice de chamar o (outrora) empregado de "colaborador". Como assim, "colaborador"? Deve ser para justificar a merda da salário e a quantidade de serviço que jogam em nossas costas. Sendo, "colaborador", intui-se que eu esteja lá para ajudar a empresa a galgar os degraus do sucesso, se forma abnegada, vestindo a camisa da equipe. Oras, eu não visto nem a camisa do time de futebol para o qual torço, que dirá o de uma empresa que só faz sugar meu sangue... Não, gênios da administração, nós somos "empregados" mesmo, paus-mandados, submissos e submetidos ao poder. Estou lá para ganhar um dinheirinho que pague minhas contas, e não para estabelecer intimidades, ser solidário, amiguinho ou o c... Se isso acontecer, ótimo; todos saímos lucrando. Mas o que me irrita é essa obrigatoriedade. De qualquer coisa. Ademais, se eu quisesse trabalhar numa coisa que me obrigasse a ser simpático, ia ser Relações Públicas ou recepcionista de consultório dentário, e não isso que estou fazendo para vocês, que diabos!
- Você não acha isso, professor?
Mais ou menos como alguns fazem com garçons, lixeiros, comissários(as) de bordo e outras categorias. Odeio isso. Odeio que me chamem assim. Da próxima vez vou responder: "Escuta, você me conhece? Se sim, me chame pelo nome. Se não, antes de se dirigir a mim, pergunte como me chamo. Se não quiser se dar a esse trabalho, nem fale comigo. Poupa uma série de aborrecimentos: o seu, por ter de perguntar meu nome; o meu, de ter de falar com você." (A quem considere que eu esteja renegando minha própria categoria: não é o caso. Racionem: quando eu chamo o outro de "professor", eu estabeleço uma diferença entre mim e ele. Ou seja, eu não sou professor, o outro é. Sendo assim, reitero: ou me chamam por meu nome, ou me trate por "colega", que ao menos estabelece uma equanimidade - que não existe, eu sei, mas é o preço que se paga por viver socialmente. Claro que todas essas observações valem se o outro não for um fdp carreirista e sabotador. Aí é melhor deixar o doido continuar a falar sozinho ao telefone celular, ou seja o que estiver fazendo...)
2. Antigamente, havia um setor nas empresas que se chamava "Departamento de(o) Pessoal", com pequenas variações aqui e ali. Como parecia pouco simpático e eficiente, mudaram para "Setor de RH". Hoje, já falam em "Gerência de Relações Humanas", "Gerência de Pessoas", o escambau. Claro que só mudou o nome, já que a putaria continua a mesma - se não pior. Agora, de todas essas modas administrativas, a que mais me torra a paciência é a boiolice de chamar o (outrora) empregado de "colaborador". Como assim, "colaborador"? Deve ser para justificar a merda da salário e a quantidade de serviço que jogam em nossas costas. Sendo, "colaborador", intui-se que eu esteja lá para ajudar a empresa a galgar os degraus do sucesso, se forma abnegada, vestindo a camisa da equipe. Oras, eu não visto nem a camisa do time de futebol para o qual torço, que dirá o de uma empresa que só faz sugar meu sangue... Não, gênios da administração, nós somos "empregados" mesmo, paus-mandados, submissos e submetidos ao poder. Estou lá para ganhar um dinheirinho que pague minhas contas, e não para estabelecer intimidades, ser solidário, amiguinho ou o c... Se isso acontecer, ótimo; todos saímos lucrando. Mas o que me irrita é essa obrigatoriedade. De qualquer coisa. Ademais, se eu quisesse trabalhar numa coisa que me obrigasse a ser simpático, ia ser Relações Públicas ou recepcionista de consultório dentário, e não isso que estou fazendo para vocês, que diabos!
24 de outubro de 2007
Frase do dia
"A verdade é que aquilo lá não é um lugar pra você aprender coisas novas, fazer carreira, essas coisas. Aquilo, no máximo, serve pra você ganhar aquele dinheirinho de cada dia..." (Dita por uma moça a outra, numa rua do centro da cidade)
22 de outubro de 2007
Poesia na parada...
Para que não digam que estou completamente alheio ao que acontece: de 30 de outubro a 4 de novembro acontece o Tordesilhas - Festival Ibero-Americano de Poesia Contemporânea. Claro que a programação do evento sofre de uma lacuna irreparável, que é minha ausência, mas ainda assim vale a pena acompanhar os debates e os recitais. Para quem tiver interesse, favor conferir a programação clicando aqui.
20 de outubro de 2007
Rumo ao Inferno
1o. dia:
- Então, sr. Fulano, acho que está tudo OK pra você trabalhar aqui conosco - pelo menos de minha parte. Agora é só aguardar o pessoal dos Recursos Humanos entrar em contato com você. Mas não se preocupe: vai demorar um pouquinho, coisa de duas semanas mais ou menos. E eles avisam com antecedência, que é pra você não ficar correndo atrás de documentos, essas coisas...
2o.dia (24 horas horas depois):
- Sr. Fulano? Aqui é a K., da empresa Tal e Qual. Então, estou ligando para saber se o senhor pode estar vindo aqui no máximo até amanhã para pegar a lista de documentos que o senhor deve providenciar para sua contratação...
Fulano acha estranho, quase inconveniente a pressa, mas se conforma. A vida não está mesmo fácil. Concorda, e no dia seguinte vai a Empresa Tal e Qual. Cancela compromissos, deixa de fazer coisas importantes só para descobrir, na chegada à empresa, que a lista era uma lista mesmo. Uma folha de papel com a relação de cópias e cópias de todos os documentos possíveis e imagináveis. Só faltou pedir exame de fezes. Por via das dúvidas, confere mais uma vez a lista para ver se não havia também essa exigência.
- Fulano - diz K., com um sorriso no rosto - você poderia estar vindo amanhã para fazer o exame médico admissional?
Mais essa, pensou Fulano. Não, não poderia. Mas aí se lembra das contas vencendo, do saldo bancário cada vez mais negativo. "A que horas?" "Às dez da manhã." Justamente no dia do rodízio do meu carro, catso! Quase diz isso, mas contém-se. Não, tudo bem.
3o. dia: Depois de deixar o automóvel no estacionamento às 7 da manhã (já calculando o prejuízo das horas mortas da manhã), Fulano resolve tomar um café para fazer hora até o momento do exame. Que seria inútil, claro. Ninguém diz ao médico que está tomando remédio tarja preta numa situação dessas. Nem que é dado a explosões de fúria a cada seis meses. O médico também não pergunta isso. No máximo medem sua pressão, encostam o estetoscópio no peito do(a) candidato(a), rabiscam um "APTO" na ficha, e acabou.
Pois nem isso acontece: logo após chegar à empresa Tal e Qual, Fulano recebe a notícia de que, por uma emergência de "última hora" (resta saber que tipo de emergência não é "de última hora"...), o médico não viria. Mas que Fulano poderia estar marcando o exame para outro dia e horário. E tome mais quinze reais de estacionamento.
4o. dia: De posse do exame médico e da maior parte dos documentos, Fulano vai à empresa Tal e Qual. Toma um ligeiro chá de cadeira de vinte minutos. Aí aparece K. com uma pastinha. Mais papéis para assinar, preencher etc. Com as mesmas informações que estão nas fichas que Fulano preenchera no processo de seleção e nos documentos que ele segura debaixo do braço. Mais uma hora para preencher tudo, para K. conferir a documentação e sabe-se lá mais o quê.
-Bom, por enquanto está tudo certo, Fulano. Você só está me devendo as fotos, o Atestado de Antecedentes, a Carta de Recomendação do Último Emprego e todos os comprovantes de eleição desde 1980. Ah, falta também o senhor trazer sua ficha de Sócio-remido do Clube de Biriba de Penápolis...
- ...
- Então.. até segunda-feira!
- Como assim, segunda-feira? Eu tenho compromissos que não posso adiar nem cancelar... Até porque vocês me disseram que demoraria um pouco para me chamar...
- Pois é, mas é que tivemos uma alteração no cronograma. Sabe como é...
Nesse momento, Fulano pensa mais uma vez que seria o caso de mandar tudo à merda. Sabia que ia se arrepender de não ter feito isso, mas...
- Ah, estava me esquecendo, Fulano; preciso falar de seu desempenho nos testes... Veja, você foi bem na parte prática e na redação, mas se saiu um pouco ruim na parte teórica. Então, preciso que você, nesses três meses de experiência, se comprometa a sanar essas falhas, seja fazendo cursos, seja mostrando que está estudando, não importa. Mas é preciso que você demonstre esse empenho, ok?
- ...zzz!
- Sobre a indumentária...
- Indumentária? Ninguém me falou disso.
- Não, nada complicado. Sexta-feira todo mundo pode usar jeans, mas normalmente espera-se que a pessoa venha com roupas melhores.
Bom, agora está me chamando de malaco. Se ela soubesse que o jeans que estou vestindo custa mais que toda a roupa que ela enverga..., conjectura Fulano.
- Então, até segunda!
- Vá esperando. Ok, mais uma frase que fica nas intenções. Mas, na segunda, não apenas Fulano vai se atrasar, como vestirá uma calça jeans, camiseta e que foda a Tal e Qual, K. e a corja toda de engravatados que ali trabalha. Fodam-se-lhe todos, não importa por qual orifício excrecitório, excrecitante, excretatório - ah, vossas excelências sabem quais são!
- Então, sr. Fulano, acho que está tudo OK pra você trabalhar aqui conosco - pelo menos de minha parte. Agora é só aguardar o pessoal dos Recursos Humanos entrar em contato com você. Mas não se preocupe: vai demorar um pouquinho, coisa de duas semanas mais ou menos. E eles avisam com antecedência, que é pra você não ficar correndo atrás de documentos, essas coisas...
2o.dia (24 horas horas depois):
- Sr. Fulano? Aqui é a K., da empresa Tal e Qual. Então, estou ligando para saber se o senhor pode estar vindo aqui no máximo até amanhã para pegar a lista de documentos que o senhor deve providenciar para sua contratação...
Fulano acha estranho, quase inconveniente a pressa, mas se conforma. A vida não está mesmo fácil. Concorda, e no dia seguinte vai a Empresa Tal e Qual. Cancela compromissos, deixa de fazer coisas importantes só para descobrir, na chegada à empresa, que a lista era uma lista mesmo. Uma folha de papel com a relação de cópias e cópias de todos os documentos possíveis e imagináveis. Só faltou pedir exame de fezes. Por via das dúvidas, confere mais uma vez a lista para ver se não havia também essa exigência.
- Fulano - diz K., com um sorriso no rosto - você poderia estar vindo amanhã para fazer o exame médico admissional?
Mais essa, pensou Fulano. Não, não poderia. Mas aí se lembra das contas vencendo, do saldo bancário cada vez mais negativo. "A que horas?" "Às dez da manhã." Justamente no dia do rodízio do meu carro, catso! Quase diz isso, mas contém-se. Não, tudo bem.
3o. dia: Depois de deixar o automóvel no estacionamento às 7 da manhã (já calculando o prejuízo das horas mortas da manhã), Fulano resolve tomar um café para fazer hora até o momento do exame. Que seria inútil, claro. Ninguém diz ao médico que está tomando remédio tarja preta numa situação dessas. Nem que é dado a explosões de fúria a cada seis meses. O médico também não pergunta isso. No máximo medem sua pressão, encostam o estetoscópio no peito do(a) candidato(a), rabiscam um "APTO" na ficha, e acabou.
Pois nem isso acontece: logo após chegar à empresa Tal e Qual, Fulano recebe a notícia de que, por uma emergência de "última hora" (resta saber que tipo de emergência não é "de última hora"...), o médico não viria. Mas que Fulano poderia estar marcando o exame para outro dia e horário. E tome mais quinze reais de estacionamento.
4o. dia: De posse do exame médico e da maior parte dos documentos, Fulano vai à empresa Tal e Qual. Toma um ligeiro chá de cadeira de vinte minutos. Aí aparece K. com uma pastinha. Mais papéis para assinar, preencher etc. Com as mesmas informações que estão nas fichas que Fulano preenchera no processo de seleção e nos documentos que ele segura debaixo do braço. Mais uma hora para preencher tudo, para K. conferir a documentação e sabe-se lá mais o quê.
-Bom, por enquanto está tudo certo, Fulano. Você só está me devendo as fotos, o Atestado de Antecedentes, a Carta de Recomendação do Último Emprego e todos os comprovantes de eleição desde 1980. Ah, falta também o senhor trazer sua ficha de Sócio-remido do Clube de Biriba de Penápolis...
- ...
- Então.. até segunda-feira!
- Como assim, segunda-feira? Eu tenho compromissos que não posso adiar nem cancelar... Até porque vocês me disseram que demoraria um pouco para me chamar...
- Pois é, mas é que tivemos uma alteração no cronograma. Sabe como é...
Nesse momento, Fulano pensa mais uma vez que seria o caso de mandar tudo à merda. Sabia que ia se arrepender de não ter feito isso, mas...
- Ah, estava me esquecendo, Fulano; preciso falar de seu desempenho nos testes... Veja, você foi bem na parte prática e na redação, mas se saiu um pouco ruim na parte teórica. Então, preciso que você, nesses três meses de experiência, se comprometa a sanar essas falhas, seja fazendo cursos, seja mostrando que está estudando, não importa. Mas é preciso que você demonstre esse empenho, ok?
- ...zzz!
- Sobre a indumentária...
- Indumentária? Ninguém me falou disso.
- Não, nada complicado. Sexta-feira todo mundo pode usar jeans, mas normalmente espera-se que a pessoa venha com roupas melhores.
Bom, agora está me chamando de malaco. Se ela soubesse que o jeans que estou vestindo custa mais que toda a roupa que ela enverga..., conjectura Fulano.
- Então, até segunda!
- Vá esperando. Ok, mais uma frase que fica nas intenções. Mas, na segunda, não apenas Fulano vai se atrasar, como vestirá uma calça jeans, camiseta e que foda a Tal e Qual, K. e a corja toda de engravatados que ali trabalha. Fodam-se-lhe todos, não importa por qual orifício excrecitório, excrecitante, excretatório - ah, vossas excelências sabem quais são!
15 de outubro de 2007
E, falando em lembrar, esqueci...
...de avisar que tem textos novos no Le Monde Diplomatique Brasil. Não achou o link ao lado? Então, clique aqui.
Mas a propósito de quê?
A que mundo pertencem os professores? São uma classe social? Uma categoria profissional? Lúmpens? Devo confessar que não tenho a resposta. Certo é que, mais que qualquer outro segmento, o universo dos professores é amplo e quase irrestrito, o que confere o alto nível de picaretagem a que estamos sujeitos. Até os ditos populares rebaixam essa figura: "Quem sabe faz; quem não sabe, ensina." E por aí vai. Em vários casos, trata-se da mais pura verdade. E os interesses são tantos, que não há mesmo como conciliar tudo e todos, mesmo porque há tipinhos que se dizem professores que faça-me o favor! Ganhando o que ganha, e tendo de se desdobrar em inúmeros empregos para pagar as contas e o imposto de renda, não espanta o grau de ignorância de parcela significativa desses profissionais. E, tendo de se equilibrar entre a direção e a clientela, com ameaças (por vezes físicas) de ambos os lados, não admira as panes nervosas, o estresse, as doenças cardíacas e gastrointestinais. Mas vamos comemorar assim mesmo, a troco de nada, apenas para esquecer - por um momento que seja - a desgraça que fizeram de uma profissão que talvez seja a mais importante de todas, mas que nunca, nunca, nunca na história deste país foi tão vilipendiada por todos os que dela dependem: governantes, dirigentes, pais e filhos (da p., que seja!).
10 de outubro de 2007
Há dias assim...
...mas o que comentar diante do que vemos e lemos, o mar de bosta em que afundamos mais e mais, cotidianamente? Na esfera política, os conchavos, as negociatas, o toma-lá-dá-cá, as conciliações e outras coisas inconfessáveis. Na educação, boas intenções que se chocam com a realidade brutal do tráfico e do desinteresse da maioria em aprender. (Diga-se de passagem que em um país onde o governante máximo bate no peito para dizer que não precisou estudar para chegar onde chegou, não espanta o desprestígio da escola.) No esporte, conquistas pífias e vãs - com as honrosas exceções. No debate intelectual, o deserto de idéias, o bate-boca com jeito de bate-estacas, a agressão verbal e física, a ausência de horizontes. No dia-a-dia, a barbárie, a hipocrisia, o cinismo, a falta de modos. Há quem se espante com os rumos que este país tomou e tem tomado, diante da pujança de recursos naturais e tal e coisa e coisa e tal, mas nossa História explica e demonstra que não poderia mesmo ser diferente. E, na lambança geral, ninguém - ou quase ninguém - se salva.
A própósito do mais do que comentado filme Tropa de Elite, causa espécie a saraivada de besteiras ditas a respeito e em torno dele. Sobre o filme em si, o propalado fascismo passa longe. Não há heróis ali, e esse é um dos bons aspectos da obra. Agora, de onde parcela da intelectualidade tirou a "lição" de que é preciso descriminalizar as drogas como parte do processo de diminuição da violência? Como se, tirando do traficante o privilégio de ser o único fornecedor, este partiria, assim, na boa, para a vida honesta, de trabalho duro nas fábricas de drogas ou como vendedor das mesmas em pontos comerciais estabelecidos legalmente. Mais ou menos como acontece com as bebidas alcoólicas, com os medicamentos e com os produtos eletrônicos, onde não existe pirataria, roubo de cargas e vendas clandestinas em camelôs e barraquinhas. Ah, como não me dei conta disso? E, nessa toada toda, vá você reclamar que roubaram seu relógio. É capaz de você ser acusado de fomentador da violência urbana, pois ostenta um símbolo do fosso social que separa as elites do restante da população. Durma-se com um barulho desses...
A própósito do mais do que comentado filme Tropa de Elite, causa espécie a saraivada de besteiras ditas a respeito e em torno dele. Sobre o filme em si, o propalado fascismo passa longe. Não há heróis ali, e esse é um dos bons aspectos da obra. Agora, de onde parcela da intelectualidade tirou a "lição" de que é preciso descriminalizar as drogas como parte do processo de diminuição da violência? Como se, tirando do traficante o privilégio de ser o único fornecedor, este partiria, assim, na boa, para a vida honesta, de trabalho duro nas fábricas de drogas ou como vendedor das mesmas em pontos comerciais estabelecidos legalmente. Mais ou menos como acontece com as bebidas alcoólicas, com os medicamentos e com os produtos eletrônicos, onde não existe pirataria, roubo de cargas e vendas clandestinas em camelôs e barraquinhas. Ah, como não me dei conta disso? E, nessa toada toda, vá você reclamar que roubaram seu relógio. É capaz de você ser acusado de fomentador da violência urbana, pois ostenta um símbolo do fosso social que separa as elites do restante da população. Durma-se com um barulho desses...
8 de outubro de 2007
Só para ninguém esquecer
Começa oficialmente hoje - mas com eventos só a partir de amanhã - o Corredor Literário na Paulista. Provavelmente estarei lá na Fiesp, acompanhando o bate-papo com Marcelino Freire. Mais detalhes, confira na programação oficial. Clique aqui.
6 de outubro de 2007
Boas novidades
A gentileza do amigo Rodrigo Gurgel me concedeu a oportunidade de ter poemas meus publicados no sítio do Le Monde Diplomatique Brasil. O primeiro já está lá. Aproveitem a visita e leiam os demais artigos, que são ótimos - maneira de compensar a ruindade lírica deste que vos escreve...
4 de outubro de 2007
Vadiagens
Vão por mim: não falta muito para esse sistema todo explodir de vez. Num mundo em que bandido vira herói ou ídolo de TV, não dá mesmo pra acreditar no triunfo da civilização, qualquer que seja ela. A apologia a Mano Brown, por exemplo, é dessas coisas que só poderiam acontecer aqui, neste país onde o presidente faz alarde de sua falta de estudos e de sua ignorância - como se isso fosse algo que o investisse de uma pureza típica dos ungidos pela divindade. Aliás, esse negócio de achar que "povo" é necessariamente coisa boa, é de uma demagogia que faz revirar o estômago de qualquer um. Não que a dita classe dominante seja flor que se cheire, au contraire, mas ninguém é mocinho neste cenário de destruição e trevas. Quando acordarmos pra isso, já vai ser tarde demais e a ditadura já estará devidamente instaurada. E com o beneplácito dos ditos intelectuais. Nesse dia, espero estar em Paris, como exilado; ou morto, pra não ver a desgraceira.
3 de outubro de 2007
A título de coisa alguma
Comi, pela primeira e última vez, um lanche daquela rede de lanchonetes norte-americana que chegou aqui não faz muito tempo. Azia instantânea. Deve ser coisa da idade, penso agora. Cheguei num momento da vida em que essa porcariada que os adolescentes engolem não satisfaz meu paladar, ao contrário, detona-o. Ou, suprema frescura, devo ter chegado num ponto em que só posso mesmo degustar iguarias finas como caviar, salmão, fundo de alcachofra com molho de parmeggiano e sementes de papoula. Essas coisas.
Diga-se de passagem que a divisão da sociedade em classes se repete nos shoppings centers desta cidade. Você tem, por exemplo, o Iguatemi - destinado às classes abastadas que desdenham a Daslu. Tem o Morumbi, pra quem se acha Iguatemi, mas odeia quem freqüenta este último. E tem os periféricos, que lotam com as classes efetivamente subalternas. Dentro de um mesmo centro de compras, por sinal, encontra-se outro tipo de divisão: o dos setores de alimentação, ou praças de pasto, como diria eu. Para os mais favorecidos, um espaço separado, com mesas e garçons, toalha de pano e quejandos. Para a matilha esfaimada, a padronização das mesinhas chumbadas no chão, a bandeja que você tem de carregar, cotovelos pra lá e pra cá e a gritaria das crianças encapetadas. Típico.
Numa coisa, porém, as classes sociais todas se irmanam: na grosseria, na falta de senso ético, no desprezo absoluto pelo outro. Isto aqui, ô, ô, é um pouquinho de Brasil, iaiá...
Diga-se de passagem que a divisão da sociedade em classes se repete nos shoppings centers desta cidade. Você tem, por exemplo, o Iguatemi - destinado às classes abastadas que desdenham a Daslu. Tem o Morumbi, pra quem se acha Iguatemi, mas odeia quem freqüenta este último. E tem os periféricos, que lotam com as classes efetivamente subalternas. Dentro de um mesmo centro de compras, por sinal, encontra-se outro tipo de divisão: o dos setores de alimentação, ou praças de pasto, como diria eu. Para os mais favorecidos, um espaço separado, com mesas e garçons, toalha de pano e quejandos. Para a matilha esfaimada, a padronização das mesinhas chumbadas no chão, a bandeja que você tem de carregar, cotovelos pra lá e pra cá e a gritaria das crianças encapetadas. Típico.
Numa coisa, porém, as classes sociais todas se irmanam: na grosseria, na falta de senso ético, no desprezo absoluto pelo outro. Isto aqui, ô, ô, é um pouquinho de Brasil, iaiá...
2 de outubro de 2007
O de sempre...
O lado bom de você freqüentar cursos é a oportunidade que se tem de relativizar a magnitude de seus conhecimentos. Por um lado, você se dá conta do tamanho de suas lacunas intelectuais, já que sempre há quem saiba muito mais do que você. Por outro, é possível mensurar a imensidão ainda mais vasta da idiotice, que se alastra como epidemia pelo mundo. Isso sem contar os malucos, alienados e esquisitos de sempre. Diante do que vi hoje, até que não faço má figura...
Recebi, em mãos, o filme de meu caríssimo amigo Mucinho - o Sete Vidas -, baseado num conto dele mesmo, publicado em seu primeiro livro, O Sucesso Não Ocorre no Meu Caso, cujo parecer favorável à edição foi obra minha. Aliás, desde que pus os olhos naquelas narrativas, senti ali um talento para as Letras. Acho que não me enganei.
Recebi, em mãos, o filme de meu caríssimo amigo Mucinho - o Sete Vidas -, baseado num conto dele mesmo, publicado em seu primeiro livro, O Sucesso Não Ocorre no Meu Caso, cujo parecer favorável à edição foi obra minha. Aliás, desde que pus os olhos naquelas narrativas, senti ali um talento para as Letras. Acho que não me enganei.
1 de outubro de 2007
Vai começar, mas já começou!
Pra quem mora em São Paulo, ou para quem estiver passando por aqui, vale o lembrete: semana que vem começa o Corredor Literário na Paulista. Na verdade, já nesta semana teremos atividades ligadas ao evento. Confira a programação clicando aqui.
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