Comi, pela primeira e última vez, um lanche daquela rede de lanchonetes norte-americana que chegou aqui não faz muito tempo. Azia instantânea. Deve ser coisa da idade, penso agora. Cheguei num momento da vida em que essa porcariada que os adolescentes engolem não satisfaz meu paladar, ao contrário, detona-o. Ou, suprema frescura, devo ter chegado num ponto em que só posso mesmo degustar iguarias finas como caviar, salmão, fundo de alcachofra com molho de parmeggiano e sementes de papoula. Essas coisas.
Diga-se de passagem que a divisão da sociedade em classes se repete nos shoppings centers desta cidade. Você tem, por exemplo, o Iguatemi - destinado às classes abastadas que desdenham a Daslu. Tem o Morumbi, pra quem se acha Iguatemi, mas odeia quem freqüenta este último. E tem os periféricos, que lotam com as classes efetivamente subalternas. Dentro de um mesmo centro de compras, por sinal, encontra-se outro tipo de divisão: o dos setores de alimentação, ou praças de pasto, como diria eu. Para os mais favorecidos, um espaço separado, com mesas e garçons, toalha de pano e quejandos. Para a matilha esfaimada, a padronização das mesinhas chumbadas no chão, a bandeja que você tem de carregar, cotovelos pra lá e pra cá e a gritaria das crianças encapetadas. Típico.
Numa coisa, porém, as classes sociais todas se irmanam: na grosseria, na falta de senso ético, no desprezo absoluto pelo outro. Isto aqui, ô, ô, é um pouquinho de Brasil, iaiá...