Querida E.:
que bom que você veio aqui, leu alguma coisa e se deu ao trabalho de me mandar um e-mail comentando um de meus posts. Acho que você é a primeira pessoa, daquele pessoal da faculdade, que visitou meu blogue - a despeito de eu o manter já faz um certo tempo. Não vou negar que foi uma grata surpresa, eu que não gosto delas. E vindo de você, a quem muito admiro e respeito, foi particularmente especial.
Dito isso, reitero o que já dissera: muito do que este blogue traz é triste, menos por mim, e muito mais pelo mundo - que só faz nos deprimir mais e mais. Talvez a essência seja isso: não me permito o luxo da alegria - ainda que sejam as pequenas felicidades cotidianas, os instantes domésticos de plenitude - porque seria compactuar com a idéia de que nos espera alguma coisa que não seja a destruição, o aniquilamento, a decepção. Não sou assim; nunca fui. Acresce que, pela vias comuns do existir, tomamos contato com pessoas que nunca nos deixam esquecer a condição humana, essa capacidade infinita da crueldade, da vilania, da calhordice. Salvam-se, contudo, umas poucas, justamente aquelas que me fazem acreditar que ainda é possível adiar o lamaçal no qual chafurdaremos mais dia, menos dia. Você é uma dessas pessoas. E é por isso que escrevo esta carta, coloco-a numa garrafa e jogo-a neste mar virtual em que (ainda) conseguimos nos encontrar e nos falar. Talvez um dia você a leia. Talvez outros o façam. E eu, aqui, mesmo descrente da humanidade e de suas escolhas, pararei de teclar no computador e olharei pela janela, esperando que o dia que nasce ao menos não me traga as notícias cinzentas de sempre.