Blogue de um pretenso poeta, intelectual de cafeteria, reclamão de todas as horas e professor de Literatura por profissão (e, dizem, talento). Poemas e exercícios narrativos, crítica de cultura e maledicências ligeiras em tom farsesco. Tudo aqui é mentira.
8 de agosto de 2007
Um capítulo de um livro vindouro
Preciso corrigir esse defeito. Não é nada para se envergonhar, mas as pessoas não entendem o que eu digo, tenho de repetir, me repetir, eu que odeio isso mais que tudo, mais que o fato de eu usar óculos e ter a cara cheia de espinhas. Vou falar, então as palavras saem enroladas, umas sobre as outras, como putas de filme pornô, aí a pessoa me olha com aquela expressão de quem acha que você sofre de algum problema mental, então tento me explicar e o que consigo é manchar a roupa da pessoa com perdigotos e ver o riso amarelo e o cara enojada que ela faz antes de se afastar como se eu tivesse alguma doença contagiosa. Nada para me envergonhar, mas eu preciso corrigir ese defeito antes que me tomem por demente. E eu não sou. Tenho apenas esse defeito, um nada, que projeta meu maxilar inferior para além de seu eixo e me confere um ar meio agressivo. É másculo, mas em mim é defeito. Um defeitinho. Fora isso, sou perfeito. Minha mãe concorda comigo, tanto que vai me ajudar a pagar a operação. Daí todos terão de me agüentar falando o que me ter na telha. Não vejo a hora.