29 de março de 2010

Poema

"Do hedonismo"

para M.

Que assim queiramos, ao menos no calor
Dos humores que na penumbra trocamos,
É líquido desvão nos caminhos que desenhamos
Com giz e carvão sobre o solo seco.
Breve é nosso existir - isso não se nega -
E nao há flor que não se despetale
E sob a terra não apodreça, é regra.
Mas o humano desafio se interpõe
Ante as estrelas e o sal que nos come
Carne, sangue e alguma coisa insentida.
E por mais que assaz queiramos, a fresta
De um sentir perene ali se planta
A deitar raiz, corpo e frutos
De um sabor que sabemos ser amargo
(E nem por isso sequer recuamos).

23 de março de 2010

Novas

Ah, tenho novidades, sim. Pena que elas não interessam a ninguém, a não ser a mim, e olhe lá.

22 de março de 2010

Começa tudo de novo

Sabe aquelas ocasiões em que você tem vontade de ser gentil com as pessoas, achar que um dia de sol é maravilhoso, que tudo é belo e que você precisa abraçar as pessoas com quem você se relaciona? Pois é: não vai ser hoje. Nem tampouco amanhã.

19 de março de 2010

Jamais seja sincero

Das inúmeras coisas que detesto além de quiabo e miúdos: pessoas que acham que a sinceridade é uma virtude. Não é. Como eu já disse aqui, vá tentar ser sincero com essa gente. No mínimo você vai levar uma pedrada.

6 de março de 2010

Gente feliz

Sexta-feira de manhã. Parei para tomar um café numa loja de uma grande rede de supermercados. Fui fazer o pedido, mas o caixa do setor ainda não abrira. "Moço, o senhor vai lá no caixa normal, paga e faz o pedido aqui, depois." Vi a fila dos idosos (sim, porque idoso é o ser mais madrugador que existe. Antes das galinhas acordarem, lá estão eles nos pontos de ônibus, nos supermercados e nos cafés.) no único caixa que funcionava, suspirei, já prevendo aonde essa história iria me levar, mas pensei que naquele dia poderia haver uma exceção. Com a demora de praxe, chegou minha vez, pedi um café e um pão de queijo. A atendente: "Fulano, cadê a lista de códigos do café?" O outro: "Não sei, aqui não está!" E a fila atrás de mim aumentando. E lá se foi a moça a procurar. Pergunta daqui, fala com a encarregada dali. Depois de um tempo, e após todo mundo que me segui ter desistido de pagar suas compras ali, diz a moça: "Olha, senhor, faça o pedido direito no café e depois você acerta lá mesmo, quando eles abrirem o caixa deles." Já havia desistido mesmo, mas segui adiante, só pra ver se a coisa chegava aonde eu imaginara. Fiz o pedido. O rapaz do café - depois de ter atendido uma senhora, evidentemente freguesa habitual - olhou pra mim e meio que bradou: "O caixa está fechado, o senhor tem que fazer o pedido nos caixas normais!" Respondi: "Acabei de vir de lá e me mandaram vir aqui. Eles perderam a ficha com os códigos." "Não, está com eles! Aqui não ficou!" Um diálogo non sense às 6 da manhã era tudo de que eu precisava para deixar meu dia feliz. Nem preciso dizer como terminou, preciso? Achei melhor tomar o bendito café no balcão da padaria mesmo. Apertado, desconfortável, sem nenhum sossego, mas pelo menos já sabendo que, naquele lugar, ninguém fica alardeando uma alegria que não tem como existir. Não aqui, não agora. Talvez nunca.