28 de outubro de 2006

Outros quatro anos levando vocês sabem onde...

Então, ao que tudo indica, teremos mais quatro anos com o "grande líder". Quer dizer, vai que, na última hora, os eleitores preparem uma surpresa e teremos outro nome para Presidente... Mas acho que não, e fica aberta a porteira para outra série de impunidades, de roubalheiras escancaradas, de mentiras deslavadas, de promessas que "nunca na História deste País" foram tão desavergonhadamente descumpridas. Não que o outro fizesse melhor; a diferença é que o butim seria amealhado com mais profissionalismo, se é que posso me expressar assim.
De mais a mais, serão quatro anos de difícil governabilidade - apesar da pífia "oposição" que temos aqui. A sorte é que o povinho é mais manso que gado dopado, com exceção do pessoal do MST e de um e outro radical que ainda sobrou por aí, os quais serão devidamente manipulados pela Sua Majestade Barbuda (como se refere a ele a Heloísa Helena) . Mas sei lá, do jeito que a coisa vai, não falta muito para estourar o "foda-se" geral. Aqui da minha janela vejo pequenas amostras disso.

Mudando ligeiramente de foco: o que se espera de um vizinho de vaga no condomínio onde você mora? Respeito, civilidade, essas coisas? Nãããããããoooo!! Espera-se que ele seja o menos filhadaputa possível. Mas nem isso se pode ter dessa gentinha que aqui vive. Se a vaga for ao lado, o vivente faz questão de encostar o máximo possível na SUA vaga. Aí, quando você chega, não tem como abrir a porta nem de um lado, nem do outro. Às vezes, é necessário sair pelo porta-malas, quando isso é possível. Se a vaga for daquelas de uma na frente, outra atrás, piorou: o nego encosta a porcaria do 147, do fusca, do escambau dele de modo a que seu carro não tenha como entrar no espaço que lhe é reservado. Você precisa descer do seu, torcer para o calhorda ter deixado o freio de mão destravado e empurrar a barcaça (e sujar mãos, roupas etc.) à meia-noite, depois de um dia inteiro de trabalho e calor. Melhor ainda se estiver chovendo.
Pergunto: sou só eu ou tem mais alguém que acha que isso não é exceção, mas é o padrão da dita humanidade?

E aí me chega uma pessoa de quem gosto muito e sugere uma terapia de regressão. Alguns nem precisam disso: já andam meio de quatro, não sabem falar, babam no guardanapo e grunhem sozinhos. Regredir para quê?

24 de outubro de 2006

Não esperem nada de bom

Olha, gostaria demais de me enganar a respeito, mas não vejo nenhuma perspectiva de que entremos num ciclo de melhorias econômicas, sociais, culturais, o que seja. A quem imagina que chegamos ao fundo do poço, sinto desapontar com a notícia de que não, não chegamos ainda lá. Podemos afundar mais, e iremos. Discordo de muito bons amigos, que vêem um horizonte onde o sol brilha e todas as pessoas serão felizes, porque, se assim for, estamos todos ferrados: precisamos de chuva, e muita, que encha os reservatórios e garanta água e represas cheias que gerem energia. Não vejo o futuro que eles vêem porque não concebo a idéia de que o malfeito de um justifica o do outro, e assim por diante. Ou pior: de que o "nosso" malfeito seja bom, já que visa "consertar" o país. Não vislumbro esperança onde o "certo" é apenas a garantia de que tudo vai ficar exatamente como está, incluindo as falcatruas. Onde a educação está entregue aos tubarões e aos incompetentes usuais. Onde quem grita mais (e chantageia no mesmo diapasão) pode mais. Isto não é um país, mas um amontoado de imbecis e de canalhas brigando para ver quem é o último a raspar o fundo da burra de dinheiro. Somos todos uns idiotas, seja pela omissão, seja pela ação sempre para o lado errado. Um país que elege C..., M...fs, Cl.., Sar..., e por aí afora. Um país onde leporídeos e psicóticos posam de escritores. Onde um despreparado total banca o presidente. Vão por mim: guardem o dinheiro do final do ano, que os próximos quatro vão colocar muita gente na posição da qual nunca deveriam ter saído: a de quadrúpedes.
P.S.: mas que fique muito claro; não faço o jogo da oposição, que considero tão incapaz quanto quem manda. No fundo, literalmente, somos todos uns bundões.

20 de outubro de 2006

Dos "nãos"

Não vou participar de nada que me interessa realmente. Tenho obrigações profissionais.
Não vou sair de casa à noite para me divertir. Tenho medo da violência.
Não vou me encontrar com as pessoas de que gosto. Tenho medo de brigar com elas.
Não vou comer isso nem beber aquilo. Tenho medo de que isso me faça mal.
Não vou me dar o prazer de um dia ou uma noite de sossego. Tenho de pagar minhas contas.
Não vou descansar enquanto não destruir todos os meus inimigos. Tenho medo de não ser amado.
Não vou a lugar algum. Tenho medo de chegar lá.

15 de outubro de 2006

Comentários rápidos

Quando o mau-caratismo, a filhadaputice, a mentira - tudo isso acompanhado da preguiça intelectual e seus corolários - parecem se constituir práticas normais da vida pública do país, tenho asco só de imaginar o que não deve acontecer na privada, digo, na vida privada dessa gente.

Dizem que a compaixão, a solidariedade, a bondade e a decência seriam algumas das características humanas mais típicas. Isso é porque quem disse isso não conhecia a verdadeira índole dessa espécie. Ou havia recebido um suborno para dizê-lo.

E depois me questionam dos motivos de minha misantropia...

10 de outubro de 2006

Poema, depois de muito tempo.

Louvação

Talvez haja um canto junto ao esgoto,
Talvez os ratos caminhem a esmo,
Hoje quis chover mas o sol não deixou
E as pessoas franziram os cenhos e
Cerraram os punhos e venderam
Suas mães e seus filhos para os açougues
E encheram suas gavetas de promessas
E de poeira e corpos decompostos.
Aleluia, louvemos todos.
Aleluia, me respondem.

Talvez o grito seja arrancado como a
Um dente ou as unhas das mãos;
Talvez uma garoa nos molhe o rosto,
Ou nos mitigue a sede gretada.
Mas do céu só nos vem o chumbo
Que entra nas veias e nos amarga a boca,
E nos cega a vista e corrói a pele
E pêlos pela saliva dos lagartos.
Aleluia, ergamos as mãos.
Aleluia, todos entoam.

Talvez os homens deponham as armas,
Talvez antes que um tiro se dispare;
Mas é desejar que os porcos não grunham,
E que os dentes dos lobos não rasguem
A carne de suas vítimas e o sangue
Não borre as paredes e se misture na
Lama dos excrementos e da urina,
E que haja alguma paz nesta terra
Mesmo aos homens de boa-vontade.
Então eu urro: Aleluia! Aleluia,
Ruminantes incivis. Aleluia,
Mugem todos,
E erguem as patas.

6 de outubro de 2006

Adendo de última hora

Pessoas desmedidas são, como nos ensina a teoria literária, sujeitos afins com a raiz trágica das coisas. O desmesurado, o sem-noção-do-decoro, o herói trágico. Infelizmente, nos tempos em que vivemos, essa categoria foi rebaixada à figura do canalha. O canalha é aquele que imagina, em seus delírios, estar no centro da existência universal. O canalha é o que se agarra às sinecuras como um náufrago, ao mesmo tempo que as desdenha. Mas diz estar "defendendo sua honra". O canalha, para fazer valer sua opinião, exerce coerção sobre seus inferiores. O canalha ameaça, grita, esperneia. O canalha, desrespeitador das leis, faz uso delas quando lhe interessa, brande a tábua dos Mandamentos quando algo sai fora de seu figurino autoritário. O canalha acha que sempre vai se safar. Mas, ainda que na condição de rebaixado, a tragicidade de sua trajetória só pode mesmo redundar em sua destruição, no despedaçamento, na dilaceração. Ao contrário, porém, do herói trágico, o fim do canalha provoca, no máximo, um suspiro de alívio em suas vítimas, e o lamento hipócrita de seus seguidores.

4 de outubro de 2006

Corredor Literário na Paulista...

O debate ocorrido ontem à noite, com o Marcelino Freire, o Nelson de Oliveira, o Juliano Pessanha, o Fabrício Carpinejar e o Manuel da Costa Pinto, até que foi bom. O lugar é que não era dos melhores, embora proporcionasse a saudável aproximação física da platéia com o público ali presente, que não era dos menores. Acresce que a existência de um café ali do lado (estou falando do espaço de debates da FNAC da avenida Paulista) trazia certo desconforto auditivo, pois a barulheira de quem estava ali somente para tomar alguma coisa e jogar conversa fora, mais as xícaras, mais aquela campainha irritante chamando os fregueses pelas senhas, tudo contribuiu para me dispersar um pouco. Mas, após as falas dos participantes, as questões feitas pelo público suscitaram intervenções divertidíssimas (e outras nem tanto) dos debatedores. Na fala de todos, porém, um dado me chamou a atenção: a existência de uma neurose por parte de alguns escritores em superar os demais em termos de vendagem, de resenhas, do escambau. Uma espécie de corrida de obstáculos, digamos, de ordem intelectual. Se é que posso me expressar assim. E que, de acordo com os presentes à mesa, era uma imbecilidade, um desserviço à causa literária. Conheço alguns assim, infelizmente. Adeptos da causa do "eu primeiro e único". Espero que seja somente devido à dosagem subestimada do remédio que tomam. Mas sinceramente, duvido que o problema seja só esse.