25 de março de 2009

Para guardar no caderninho preto III

Uma coisa que foge a qualquer parâmetro de bom senso: por que diabos um(a) camarada compra um carrão, desses com motor 2.0 pra cima, que ocupa duas faixas e meia de pista, e faz questão de andar devagar? Calma, eu já tenho a resposta: é que só assim mesmo pro(a) infeliz sobrepujar os outros, já que em casa e no trabalho a frustração deve ser constante.
O mesmo vale para homens que compram máquinas potentes e barulhentas que só servem mesmo para tirar o sono e o sossego dos demais. Com o adendo que, nesse caso, o tamanho do brinquedo serve para compensar outro tipo de privação (ao menos na cabeça do indivíduo).

Sintoma: a quantidade de malucos à solta diz muito de nosso tempo, não?

Última: mostre-me um ser humano verdadeiramente altruísta e eu mostrarei o caminhho da jaula onde ele deve ser preso. Esse tipo de gente deve ser eliminada do convívio social, sob pena de destruir a harmonia tão dificilmente construída entre os demais - divididos entre a aniquilação alheia e a autodestruição sem adjetivos.

24 de março de 2009

Para guardar no caderninho preto II

Frase que ainda vai entrar na História:
"Não falo mal dos outros; apenas comento fatos ocorridos e presenciados."

Mais esta, para arrematar o dia:
"Já disse que a vida alheia não me interessa, a não ser que eu possa tirar algum proveito disso. Aliás, nem assim."

20 de março de 2009

Contudo...

(para J.M.)
Apanhar um sorriso no ar, a frase exata, a chuva que molha pés e cabelos, aquela risada, um pedaço de chocolate, uma fatia de bolo, "memórias no velho computador", uma canção antiga, um seriado novo de TV, as unhas delicadamente coloridas, o sorriso outra vez, as palavras em inglês, a promessa de um talvez, sanduíche repartido e um prato colorido, a noite que se espreguiça, um silêncio de vozes se cruzando, as estrelas desejando, um branco na folha, um rabisco.

19 de março de 2009

Ô raça!

Detesto poetas. Sobretudo os que acreditam que o são e declaram isso. Costumo fugir deles mais do que fujo de bêbados e doidos de rua. Poetas são insuportáveis. Concretos, neoconcretos ou nada disso, muito pelo contrário. Piores que eles, só os religiosos. E os políticos. E os políticos religiosos. E professores do ensino fundamental e do médio. Poetas são seres perigosos, mas tornam-se armas mortais quando desandam a falar de sua própria obra e de seu processo "criativo". Aí, só mesmo uma lobotomia para resolver. Em você, não nele. Mas sempre é tempo de pegar uma chave de fenda e enfiar na cabeça, escarafunchando bem o cérebro. Não se preocupe, depois de ouvir o poeta não ia sobrar nada que prestasse mesmo. Mas eu, do baixo de minha impaciência imensurável, só fiz mesmo fazer caras e bocas de enooorrrme interesse e tentar fazer com que o poeta se mancasse da caceteação a que ele me submetia - o que não deu certo, já que o ego dessa gente impede que elas enxerguem uma jamanta em direção delas, quanto mais um pobre ouvinte desprevenido. O bom é que sobrevivi para contar isso a vocês...

Não mesmo!

Olha e escuta: juro que não caio numa dessas de novo. É fora de propósito a capacidade que temos de reiterar nossos atos estúpidos, idiotas e completamente despidos de qualquer senso de ridículo. Isso é o que dá quando a gente confunde morbidez com carência. A verdade é que preciso com urgência tomar um antidepressivo.

E, no entanto (parafraseando Galileu)...

18 de março de 2009

Para não ficar em branco 3

Já disse o quanto gosto de dar aulas de Literatura? Não sei se as pessoas entendem minimamente minhas elocubrações estético-ideológicas, mas vou em frente, discutindo o dualismo na poesia de Álvares de Azevedo, o conflito entre história e mito na obra de Gonçalves Dias etc. De quando em quando olho a cara das pessoas para ver se alguém pegou no sono. Na segunda-feira, ninguém - mas uma moça saiu (antes) com cara mal-humorada. Diga-se de passagem que ela ficou com a mesma cara o tempo todo. Acho que era TPM, mas de repente ela não gostou muito de ver seus poetas prediletos serem massacrados, vai saber. Mas eu também cansei de tentar entender essa gente. Retificando: é que já entendi demais, e o que descobri não é nada que encha de orgulho a humanidade. Mas mesmo assim continuo gostando muito de dar aulas de Literatura. É um dos poucos momentos de minha vida presente em que me sinto menos mal.

17 de março de 2009

Não

Juro que não é paixão; está mais parecido com um treco esquisito, um estar sem conforto. Mas sempre gostei de coisas assim, fora do meu esquadro. No fundo, é uma forma de suicídio, mas sem o veneno, o gás aberto ou o pulo no vazio.

12 de março de 2009

Notas ligeiríssimas

1. A coisa está mais ou menos assim: ou resolvo minha vida este ano ou vou fugir para escapar dos credores.
Já pensei no suicídio, mas concluí que minha morte não traria nenhum benefício a ninguém; ademais, alguns talvez até ficassem contentes, e como não quero trazer alegria para pessoa alguma neste planeta, melhor permanecer vivo.

2. Sabe um tipo de pessoa que não me apetece de forma alguma? As que não têm humor, seguidas daquelas que acham que têm.

3. Toda beleza é uma forma de loucura.

4. Lidar com malas é uma questão de contêineres.

Well...

Gente, fui até ali e já volto.

5 de março de 2009

Um poema

"Nem isso"

Não sei se é o que penso,
Se amor ou qualquer forma de atropelo,
As ruas da cidade estão intensas
De gente de olhos abertos e mentiras idem,
E nossos ombros sempre esbarram em outros,
Enquanto ouvimos rock and roll
Sozinhos
Em meio à gritaria usual e pressas e pés sem dono.
Em repetidos momentos olho para a rua
E me lembro do que não tivemos,
Meus olhos buscando os seus, que ficavam
E fugiam enquanto pousava sobre nós a noite
Com seus sussurros. Um jazz ao fundo,
Algumas vozes, um tinir de pratos na cozinha.
Talvez amor, um gostar que entra pela fresta
Da porta entreaberta, um livro repartido,
Talvez minha mão em seus cabelos,
Meus lábios nos seus, talvez nem isso.

4 de março de 2009

Reflexão irrefletida - 4

A respeito do post de ontem: um dos lugares-comuns mais irritantes é esse, de dizer-se "sincero" e de, por conseguinte, "odiar falsidade". Tudo bem, mas experimente ser sincero com essa gente. No mínimo você será processado. Sem falsidade, não atravessaríamos a rua (parafraseando Nelson Rodrigues), não conseguiríamos trabalhar, não comeríamos nenhuma mulher, não viveríamos em sociedade. Nesse sentido, nada há mais verdadeiro que afirmar sua condição de insincero e de falso. É isso que mantém seus dentes em sua boca, em suma.

3 de março de 2009