29 de fevereiro de 2008

O que não foi

(para MC, G e, principalmente, JM)

Certos amores só são eternos porque nunca se concretizaram.
O que ela e eu poderíamos ter sido talvez fosse apenas algumas horas na cama, quem sabe um cinema e um jantar, e o desprezo mútuo do instante depois. Melhor assim, cada qual com a lembrança do que nunca foi, das mãos que nunca se tocaram, dos corpos que nunca se conheceram, dos lábios que nunca se beijaram. Melhor apenas uma fotografia que ficou, com sorrisos que jamais se apagarão, memória daquilo que não viveremos em época alguma, mas que foi bom, assim, simplesmente.

28 de fevereiro de 2008

Dos tempos que nunca foram

O regime de escravidão nunca deixou de existir. Somente mudou de forma, mas a essência permanece a mesma.

22 de fevereiro de 2008

De ilusão também se vive

Diálogo real entre mim e um rapaz que me parou na rua:
- Oi, tio, pode me ajudar com um real?
- Pra começo de conversa, tio é a puta que te pariu. E pra que você quer um real?
- Não tá vendo? Entrei na faculdade!
De fato, eu havia visto. Cabelos picotados, pintados de roxo, amarelo, azul e fúcsia. Sem camisa. Um pouco mais e pareceria destaque de escola de samba. Espinhas no rosto, para completar o estereótipo.
- E qual o motivo de tanta alegria?, perguntei, olhando em torno e vendo a garotada esbanjando felicidade e hormônios por todos os poros.
-Ué, entramos na faculdade, tio! Entramos!
-Tá, você já disse isso. Mas eu pergunto de novo: e essa festa toda, é a propósito de quê?
Ele me olhou incrédulo. Olharia mais, se tivesse noção do que significa "incrédulo", mas não era o caso. Voltei a dizer:
- Vamos fazer o seguinte: se você me convencer que essa alegria toda tem razão de ser, te dou dez reais, pode ser?
O rapaz forçou os neurônios calculando quantas cervejas isso daria.
-Tá, concordou, emendando a seguir: então, entrar na faculdade é uma realização de vida, não é?
-Por quê?
-Ah, vou ter uma profissão, ganhar dinheiro, fortuna, essas coisas...
-Com a faculdade?
-É.
-E em qual faculdade você entrou.
E ele me disse o nome da instituição. Uma dessas "uni-qualquer coisa". Talvez nem isso.
-Sei, Você vai ficar dois, três anos pagando todo mês pra sair com uma profissão?
-É, mais ou menos.
-Como assim?
-Não, depois tem que batalhar pra arrumar o emprego, a concorrência tá brava, mas eu sei que vou ter condições de estar mostrando todo meu potencial mais pra frente.
-Quando?
-Durante a faculdade, no estágio, não sei.
-Então deixa eu ver se entendi. Você vai fazer um curso, pagar caro por ele, não ter garantia alguma que isso vai trazer alguma vantagem real em sua vida, mas acredita que isso vai te dar uma chance maior de "vencer na vida", é isso?
Ele balançou a cabeça colorida, não sei se concordando ou por mero reflexo.
-Daí você acredita que, neste mundo em que vivemos, as oportunidades aparecem para aqueles que se esforçam mais, ou são mais espertos, ou mais inteligentes, ou mais alguma coisa? Então deixa eu te dizer uma coisinha: este mundo só dá alguma coisa se receber algo em troca, e não é pouca coisa. Você vai ter de dar seu tempo, seu fiapo de algo que você imagina ser felicidade, sua dignidade e, se perigar, até mesmo sua bunda. Isso pra não passar fome. Se quiser tudo o que você está imaginando pra você, nem precisa fazer faculdade. Seja só um filho da puta, mas daqueles bons, capazes de fuder a mãe se precisar. Venda-se. A indecência é um princípio básico para a sobrevivência.
Continuei:
-Eu não sei de onde vocês tiraram essa idéia de que entrar na faculdade é motivo de alegria. Ok, você entrou. E o que vai fazer disso? Pendurar na parede? No pescoço? Digamos que você consiga terminar o curso sem entrar na lista de inadimplentes. E depois? Vai virar empregado? Vai abrir uma empresa? Qual vai ser sua opção? Ser fodido ou foder o outro? Não importa, já que você vai desenvolver uma úlcera, talvez um câncer, vai casar com uma mulher linda que logo vai virar uma baranga chata, depois vai ser chifrado e vai chifrar, vai gastar uma grana com prostitutas até ficar impotente por causa da próstata. Aí você vai poder parar e dizer: "Minha vida é um sucesso!"
O bom dessa história toda é que gastei os tais dez reais comprando uma tapioca na barraquinha da esquina. Não, não tenho cartão corporativo. Nem eu consigo ser tão f.d.p assim...

18 de fevereiro de 2008

Mas...

... o fato é que não estou encontrando tempo nem para engolir a saliva (sim, porque sou uma pessoa muito fina e não saio por aí cuspindo).

Segundona...

Não, não estou me referindo ao Corínthians...

12 de fevereiro de 2008

Novidades antigas

Para quem ainda se interessa pelo que eu escrevo, foram publicados alguns textos meus no site da CULT (link ao lado, please!). Um a respeito de MPB, na verdade um esboço de artigo pseudo-acadêmico sobre os paralelos entre os últimos 50 anos de História do Brasil e os (des)caminhos da música popular brasileira. O outro está no Blog da Redação: uma resenha minúscula sobre um livro que trata de livros. Boa leitura!

Para não deixar a peteca cair

Se pareceu a alguém que no post anterior eu fui tomado por alguma espécie de vírus de otimismo, esqueçam. Sinceramente mesmo, não acho que vá melhorar coisa alguma. Acho que escrevi aquilo sob a influência do cachorro-quente que comi numa lanchonete infecta no metrô Barra Funda... Vou ali tomar um sal de frutas e já volto.

10 de fevereiro de 2008

Assim caminha a humanidade

Pois é, não voltei no dia seguinte. Nem no outro. Uma correria que não acaba, nem sei a troco de quê. Novidades? Por ora, nenhuma.
Ou, por outra: não precisarei mais ver a triste figura do insidioso. O mais insano é que o menino me mandou um e-mail felicitando-me por meu aniversário. Curioso. Para quem não cansava de dizer que todos nós - inclusive eu - éramos invejosos em relação à juventude dele aliada ao título de doutor tão arduamente conquistado, espanta o maluco fazer questão de ser notado por mim. É caso de tarja preta mesmo.

E olhem: se for mesmo verdade que o MEC vai tirar os representantes das instituições particulares do Conselho Federal de Educação (ou coisa que o valha), finalmente poderemos comemorar alguma coisa positiva neste país. Já estava mais do que na hora de dar um basta à influência nefasta das pseudo-universidades nos rumos do ensino (supostamente) superior. Do jeito que a coisa ia, era melhor fechar tudo e começar de novo, do zero. Quer dizer, não que não seja necessário agora, mas quem sabe se, desta vez a coisa não caminha para um rumo menos pior. É esperar para ver.