27 de setembro de 2007

Das descobertas

- Ainda não foi desta vez, mas ao menos alguma coisa boa aconteceu - embora não tenha sido exatamente o que eu desejava. Daqui a um mês mais ou menos eu venho aqui confirmar a novidade. Por ora, até para evitar a inveja alheia, vamos deixar como está.
- Participei de uma mesa-redonda, como convidado, numa universidade aqui de São Paulo. O tema era "O processo de criação poética". Fiz minha parte, sem entrar em maiores elocubrações, tentando pontuar com bom humor o que eu entendo a respeito da coisa. Aí entra o outro debatedor, professor da instituição. Começou bem, mas depois degringolou numa fala alucinada da qual sequer a figura do "eu", na acepção moderna, sobrou viva. Chegou a negar a existência desse "eu", dizendo em seguida que o que existe é um "eu coletivo", seja lá isso o que for. De minha parte, repliquei - sem causar polêmica - que essa questão talvez fizesse sentido até o século XVIII, mas que a partir de então a figura do "eu" se faz fundamental para a lírica moderna, até mesmo em função do exacerbamento da individualidade romântica, de que somos vítimas até hoje. Como não havia mais tempo, a coisa ficou por aí. Mas que o sujeito era um mala - e, por ironia, um egocêntrico de primeira linhagem - isso ele era, sim.

25 de setembro de 2007

Um dia para se recordar

Acho que vem por aí uma luzinha no fim do túnel. Só espero que não seja um automóvel na contramão...

24 de setembro de 2007

Frases soltas

Não há menor espaço, em todo o universo, que não aquele entre sua paciência e a intromissão do outro.
A estatística é um ramo das ciências exatas cuja certidão depende da malícia de quem interpreta os dados. Aqueles com seis faces, cada uma com um número.
A boa crítica é aquela que fala bem de sua obra e mal da dos outros, principalmente se esses "outros" forem seus desafetos.
Ônibus seriam ótimos meios de transporte não fossem os demais usuários. Raciocínio semelhante vale para o metrô.
O poder é sempre a medida do caráter humano.

21 de setembro de 2007

Resposta

Em resposta ao desafio da Ana Rüsche (fazer um poema de duas linhas sobre a formação do mundo), segue o meu.

"Fiat lux"

Muito barulho
Por nada.

20 de setembro de 2007

Breves considerações em torno de nada

Se eu ainda me surpreendesse com alguma coisa, talvez fosse com as insistentes provas que a humanidade me dá de sua inviabilidade. Imaginem a situação: dois sujeitos conversando a respeito de um assunto sobre o qual nenhum dos dois entende nada. Um ainda argumenta ao dizer que está "no começo do livro" que trata do tópico da discussão. O outro - e é aí que todo o potencial humano se fez luz - rebatia meio aos brados (embora fosse o natural dele) falando que discordava daquelas idéias. E eu ali, entre os dois, querendo chegar logo ao metrô pra ver se me livrava daquela chatice infindável. Ainda bem que já era de noite e nenhum dos dois podia distinguir minha expressão de enfado. Aliás, nem que ambos estivessem tratando da chegada do messias eu teria feito outra expressão. Primeiro, que não acredito nisso. Segundo, que nada neste mundo me tira a certeza de que chegamos ao fim da linha. E, diferentemente do que eu mesmo imagino, me parece que o mundo não vai acabar numa bola de fogo. Vai acabar, é sim, num bocejo. Um único e longo bocejo.

19 de setembro de 2007

Como fazer inimigos e colecionar desafetos - parte II

8.Não se misture. Caso seja inevitável, não converse com ninguém. E, se conversar, siga a instrução anterior.
9.Tenha amigos outsiders, marginais, barbados ou hipongos. Ajuda na composição da personagem desajustada que você tenta ser.
10.Jamais deixe de declarar sua condição de vítima do sistema ou da inveja alheia. O mundo adora mártires.
11.Sempre almoce ou jante sozinho. Se acompanhado, faça-o à vista de todos - desde que a companhia seja famosa, importante ou bonita. Ou tudo isso junto.
12.Com pessoas que sejam interessantes, do ponto de vista das vantagens presentes ou futuras, seja gentil e sensato. Em relação às demais, dirija seu desprezo ou destrato.
13.Aponte nos outros os defeitos que existem em você. No caso de não haver defeitos, invente-os, sempre desviando o foco da questão.
14.Na dúvida, não cumprimente. Se puder, esbarre acidentalmente e peça desculpas com estardalhaço.

18 de setembro de 2007

Como fazer inimigos e colecionar desafetos - parte I

1.Observe sempre a ordem correta dos objetos na mesa. Mantenha-os no mesmo lugar.
2.Nunca deixe de apontar as impropriedades gramaticais dos outros. Se você cometer algum, diga que estava testando os conhecimentos do acusador.
3.Jamais admita desconhecimento em relação a nada. Você sabe tudo, leu de tudo, domina até as técnicas de equilíbrio em skates e patins sobre pisos irregulares. Eventuais críticos são apenas os invejosos em relação a seu talento infindável.
4.Sobretudo, faça alarde em torno de sua juventude e sua sapiência. Ainda que você não seja propriamente jovem, use roupas que mostrem seu jeito despojado de ser.
5.Faça muita publicidade de seus triunfos, mas erga um muro de silêncio em torno de seus raríssimos fracassos.
6.Mitos sexuais sempre causam bom efeito. E não se esqueça de sugerir que seus desafetos são homossexuais e, por isso, incapazes de qualquer coisa digna. Alimentar preconceitos, desde que em causa própria, vale ouro.
7.Fale alto em lugares públicos - desde que haja pessoas conhecidas em volta. De preferência, fale sobre algo que eleve sua própria pessoa.

14 de setembro de 2007

Mas, no fundo...

Definitivamente, vou me tratar. Ou isso, ou ainda sairei pelo mundo numa cruzada à caça dos imbecis voluntários. Minha misantropia está chegando a limites assaz perigosos: não suporto tiques nervosos (a não ser os meus), não gosto de gente feliz com suas limitações, tenho nojo de quem arrota orgulhosamente sua ignorância em tudo como se fosse sapiência. A feiúra alheia me constrange. Gente comendo me dá engulhos. Fujo de maltrapilhos, mas evito também os pretensamente bem-vestidos. Desconfio de quem usa gravata e gosta disso. Mas também não dou confiança a quem usa camiseta com dizeres contestatórios e/ou engraçadinhos. Não vejo graça em programas de humor, e, se pudesse, trancaria todos os palhaços sob uma lona de circo e poria fogo em tudo. Manias alheias me cansam; as minhas já me bastam. Detesto quando me subestimam, mas suporto menos ainda que me superestimem. Fujo dos elogios fáceis. Não gosto de críticas fúteis. Não é por acaso que sou totalmente a favor de que haja controle da posse e uso de armas. Não sobraria ninguém vivo.

13 de setembro de 2007

Na beirada...

Você já viu a morte de perto? Assim, mirando nos olhos dela, aqueles olhos sem fundo, vendo um filme passar bem depressa e você ali, na beirada do precipício? Eu já, e mais de uma vez. A última foi hoje. E, olha, essas coisas não têm nada de bonito.

12 de setembro de 2007

As compensações

Neste último final de semana fui ao casamento de um ex-aluno a quem muito estimo. Normalmente fujo dessas ocasiões como o demo fugiria da cruz ou como R.L. foge do espelho. Como todo mundo sabe, odeio gente. Multidões me exasperam. E eventos sociais costumam ter essas coisas. Mas fomos e chegamos em cima da hora. Por sorte, havia uma mesa com pessoas conhecidas, também ex-alunas da mesma turma do noivo. E papo vai, papo vem, surgem as conversas sobre "aquele tempo" - devidamente regadas a cerveja e uísque. E todas elas se tornaram professoras. Professoras que gostam do que fazem e buscam fazer um trabalho que não seja a reprodução do comodismo habitual da classe. E debitaram boa parte de sua capacidade a gente como eu, que exigiu delas mais do que elas acharam que podiam oferecer. Falsa modéstia à parte, creio que o máximo que fiz foi tentar mostrar que havia algo além do muro do quintal, para usar uma metáfora. Outro dia mesmo recebi uma mensagem no orkut de outra ex-aluna relatando o amor que ela sentia pela Literatura, e que isso se refletia nas salas de aula onde ela trabalhava - também debitando a mim o papel fundamental dessa formação. Gosto de saber que - ao menos no imaginário das pessoas - o que desenvolvo repercute positivamente no mundo. Talvez eu pudesse ter feito mais e melhor, mas eu sou apenas um. Não sei se isso melhorará qualquer coisa; tenho por mim que não. Mas não nego que saber que fiz alguma diferença é sempre um pensamento reconfortante.

11 de setembro de 2007

Efeméride

Há exatos seis anos, uma série de atentados dentro do território dos EUA inaugurou uma nova era. Um tempo de paranóia quase absoluta, de perda dos matizes, do retorno triunfal dos dogmatismos de todos os tipos. O mundo, que já era uma bosta, tornou-se um lugar ainda pior para se viver. De lá para cá, a degradação só fez aumentar e só os deslumbrados com o Poder (e os apaniguados em geral) podem achar que alguma coisa melhorou. Vocês me desculpem chover no molhado, mas não dá mesmo para concordar com "tudo isso que está aí", e não é de hoje. É necessário ter estômago de aço para suportar o aumento exponencial da burrice, dos desmandos, do primarismo que parece ter tomado conta até mesmo da dita classe intelectual. Os atentados ao WTC - atos em si tão burros quanto as reações que se lhes seguiram - foram o show inaugural de nosso tempo de imbecis e de imbecilidades. Prova disso é eu escrever este blogue e haver quem me leve a sério a ponto de querer brigar comigo.

10 de setembro de 2007

Nada de novo no horizonte

Confesso que nunca trabalhei tanto como nos últimos dias. Assim como nunca por tão pouco. Mas isso parece ter virado regra: em determinados setores, a formação mais elevada não apenas tem valor nenhum como pode ser algo que desqualifica o vivente para exercer qualquer função. Ah, mas isso não tem importância, já que os fundamentos da economia parecem estáveis, o desemprego está controlado, e a inflação idem. Enquanto isso, Roma pega fogo...

3 de setembro de 2007

Quem não se divulga...

Para os interessados, amigos e parceiros: tem resenha de minha autoria no sítio do programa Entrelinhas, da TV Cultura. Aliás, tem duas. Para acessá-las, clique aqui e aqui.

Pois eu vou falar um negócio pra vocês: depois que mandei minhas resenhas, não é que deu uma caída no nível dos textos ali publicados? Nem vou falar em termos estilísticos, que aí é tragédia mesmo; mas mesmo alguns dos livros comentados são de baixa extração. Deve ser minha influência...hehehe!