29 de agosto de 2009

Da lógica deste mundo

- O trabalho não enobrece ninguém, mas enriquece o dono da empresa, que não liga para essa besteira de nobreza.
- Existe uma sutil diferença entre ser espontâneo e ser inconveniente. O problema é que quase ninguém sabe disso e, no dia a dia, resolvem que podem tratar você com a mesma "espontaneidade" com que tratam a curriola.
- Há os grossos autênticos e os calculistas. O que os separa é mais ou menos o que diferencia o imbecil do humorista. Um sabe o que está fazendo; o outro não tem a menor ideia.
- Uma infeliz chegou esses dias para mim e me contou ter encontrado um desafeto (comum, de acordo com ela). Melhor ainda: me perguntou se eu queria saber qual era o recado que ele me havia dado. Na hora, respondi que não tinha nem terei o menor interesse em saber nada a respeito dele, nem mesmo a data do sepultamento. Depois, porém, ponderei que devia ter perguntado a ela por que diabos ambos chegaram a conversar. Sim, porque desafeto meu sequer merece que eu olhe para ele, e a idiota trocou palavras com o mequetrefe. Desafeto dela? Sei, está mais me parecendo coisa de agente duplo.
- Já falei e repito: não me convidem para casamento nem para enterro. Também não me chamem para batizados e festas de aniversário com ingresso a ser pago pelo convidado. Aliás, repararam que, no caso dos dois primeiros, os únicos que não se divertem são os anfitriões?
- Quer minha inimizade? Não precisa fazer muito: basta respirar.

28 de agosto de 2009

Descanso

Os olhos funcionam pior que há alguns anos. Os ouvidos ainda dão para o gasto. A voz já era, reduzida a um fiapo. As costas doem, bem como o pescoço e adjacências. Ainda tenho cabelo, mas por quanto tempo? As rugas começam a surgir com mais ênfase. Não posso comer tudo do que gosto. Estou ganhando um cintura incômoda. E alergias antes inexistentes. Não suporto multidão nem filas. A alegria alheia me ofende. Sinceramente, diante de um quadro desses eu não teria muita esperança de poder aproveitar a vida depois da aposentadoria. Mesmo porque nem haverá uma. Vida. E aposentadoria, consequentemente.

27 de agosto de 2009

Balancete

Sabe quando você tem a impressão; não, mais que impressão, tem certeza de que sua vida está uma merda? Pois é assim que vejo o atual estágio de minha passagem por este mundo. Novidade alguma, é preciso dizer.

Mas sempre é possível um poema. E isso já resgata um pouco o que se perdeu (ou nunca se teve ou terá). Não é alento algum, embora traga um ânimo e permita ao menos um suspiro.

22 de agosto de 2009

Dias assim

É quando dela me lembro, ela tão tropical, tão afeita aos calores e aos verdes, sempre no fundo de seus olhos levemente tristes e ao mesmo tempo doando um não se contentar com ela própria, ela com seu afã de nunca estar, uma hora aqui outra acolá, ela com seu modo meio bruto e macias palavras, que eu saboreava como se estivéssemos apenas nós, corpos e desejos enlaçados, noites e dias a fio. É em dias assim, de melancolias pintando o céu, que dela faço questão de recordar, ainda que o coração sangre e doa, sem nada receber de volta.

18 de agosto de 2009

Tudo de bom

Semaninha do inferno esta que chega em sua metade. Nenhuma perspectiva de dinheiro, muito trabalho infrutífero, encontros compulsórios com gente lesada - enfim, a leseira habitual de quem vive neste país e neste planeta miserável.
A novidade é que pode ficar ainda pior, tendo em vista as notícias maravilhosas que lemos e vemos. Trambiques de todas as ordens. Falcatruas, roubalheiras, "eu-não-sei-de-nada" a rodo, desmentidos a cada segundo e, agora, censura prévia. Dos militares se pode dizer tudo, mas nem eles conseguiram levar o país ao estado de coisas a que chegamos. Nenhuma saudade deles no poder, mas que é triste ver que nada que vale a pena realmente mudou. E assim seguimos, sempre e mais bovinamente.

15 de agosto de 2009

Ora essa!

Sabe o que é pior? É essa conversinha besta de "poupar as crianças" da linguagem chula, da violência, da ausência de sentido em tudo. Cada vez que ouço um(a) babaca vir com esse discurso minha vontade é de pegar uma pá (ou uma picareta, para combinar o alvo com a arma) e dar muito na cabeça da figura. O resultado dessa imbecilidade "educacional" é criarmos esse bando de idiotas, sádicos a perder de vista, sem nenhum princípio ou moral ou o que seja para frear os instintos animalescos. Soa paradoxal, mas não é. Mas querer que as pessoas entendam isso é exigir muito delas.

12 de agosto de 2009

Francamente

O segredo para a boa convivência é manter uma distância segura de quem você gosta e uma distância mais segura ainda de quem você não gosta. Há quem discorde e diga, repetindo o velhíssimo ditado, de que é "preciso manter os amigos perto e os inimigos mais perto ainda". Acho, entretanto, masoquismo demais, embora reconheça que, em se tratando de inimigos, sempre é bom tê-los ao alcance dos olhos, já que nunca se sabe quando vão aprontar uma para cima de você. Como, no entanto, a vida anda curta e chata demais para cuidar da maluquice alheia, prefir cuidar da minha mesmo e deixar os conspiradores maquinando suas maldades pra lá. Por assim dizer, minha frase nem vai tão longe, e se refere mais a gente de quem não gosto mesmo, por idiossincrasias minhas ou delas. Então continua valendo o dito: de malucos eu mesmo me basto.

9 de agosto de 2009

Frases doloridas

- Não tenho mais paciência para jogos. Principalmente aqueles que envolvem outros seres humanos.
- Apesar do calor desgraçado, deu vontade comer fondue. O problema é que isso envolve convidar pessoas, aquela desgraça toda. Melhor fazer um sanduíche de queijo quente. O princípio é o mesmo e dá menos trabalho.

- Dez mil visitantes? Bom, que esses(as) abnegados(as), ao menos, tenham se divertido ao passar por aqui. De todo modo, meu muito obrigado.

2 de agosto de 2009

Poema

"Poema à direita"

É fácil assim: o branco não se mescla
À impureza do preto qual xadrez
Sem partições, de que resta o campo
Rubro onde boiam corpos putrefatos.

O passo seguinte é desconcordar
Das incrustradas jazidas oleosas
A prometer remissão e boa vontade
E uma caixa de sonhos bons.

Mas o ponto máximo da guinada
- Se foi isso, e não o natural fado -
É descrer do poder e da inocência

Do povo, essa forma desenformada
A quem tanto faz quem manda ou desmanda
Desde que o pão lhe pague e o circo traga.

Mais reflexões distendidas

O discurso que preconiza que a conversa ainda não chegou à cozinha, devia ter validade em sentido contrário, ou seja, certas conversas que surgem na cozinha jamais deveriam sair de lá. É preconceito de classe, sim. Cansei de ser politicamente hipócrita.
By the way, aos que me criticam por isso (e são muitos, minha paranoia não me deixa pensar o contrário), vale dizer que, ao menos, não finjo um interesse ou uma amizade que não tenho e nunca terei. Nesse sentido, sou autêntico até o limite do insuportável (para os outros).

1 de agosto de 2009

Receita para criar idiotas

Junte numa sala ampla, de preferência bem ventilada, um bando de pessoas que acham que sabem muito. Na hora de comprar, escolha pelo ego: quanto maior, melhor o resultado. Pague pelo que eles realmente valem (de graça). Ponha dois ou três para liderar, os mais vistosos. Recursos eletrônicos são de grande valia nessa hora. Faça todos falarem ao mesmo tempo, fazendo as perguntas as mais estúpidas. Não deixe que sejam respondidas. Aqueça o ambiente. Quando crescer, dividir em grupos e atribuir funções e tarefas um a um, sem que haja qualquer tipo de comunicação entre os participantes. Espalhe tudo em uma superfície inadequada. Sirva fervendo. O resultado sairá em um semestre. Ou, se o clima estiver propício, em três anos.