10 de outubro de 2007

Há dias assim...

...mas o que comentar diante do que vemos e lemos, o mar de bosta em que afundamos mais e mais, cotidianamente? Na esfera política, os conchavos, as negociatas, o toma-lá-dá-cá, as conciliações e outras coisas inconfessáveis. Na educação, boas intenções que se chocam com a realidade brutal do tráfico e do desinteresse da maioria em aprender. (Diga-se de passagem que em um país onde o governante máximo bate no peito para dizer que não precisou estudar para chegar onde chegou, não espanta o desprestígio da escola.) No esporte, conquistas pífias e vãs - com as honrosas exceções. No debate intelectual, o deserto de idéias, o bate-boca com jeito de bate-estacas, a agressão verbal e física, a ausência de horizontes. No dia-a-dia, a barbárie, a hipocrisia, o cinismo, a falta de modos. Há quem se espante com os rumos que este país tomou e tem tomado, diante da pujança de recursos naturais e tal e coisa e coisa e tal, mas nossa História explica e demonstra que não poderia mesmo ser diferente. E, na lambança geral, ninguém - ou quase ninguém - se salva.

A própósito do mais do que comentado filme Tropa de Elite, causa espécie a saraivada de besteiras ditas a respeito e em torno dele. Sobre o filme em si, o propalado fascismo passa longe. Não há heróis ali, e esse é um dos bons aspectos da obra. Agora, de onde parcela da intelectualidade tirou a "lição" de que é preciso descriminalizar as drogas como parte do processo de diminuição da violência? Como se, tirando do traficante o privilégio de ser o único fornecedor, este partiria, assim, na boa, para a vida honesta, de trabalho duro nas fábricas de drogas ou como vendedor das mesmas em pontos comerciais estabelecidos legalmente. Mais ou menos como acontece com as bebidas alcoólicas, com os medicamentos e com os produtos eletrônicos, onde não existe pirataria, roubo de cargas e vendas clandestinas em camelôs e barraquinhas. Ah, como não me dei conta disso? E, nessa toada toda, vá você reclamar que roubaram seu relógio. É capaz de você ser acusado de fomentador da violência urbana, pois ostenta um símbolo do fosso social que separa as elites do restante da população. Durma-se com um barulho desses...