25 de dezembro de 2009

É verdade

É verdade que eu podia morar nas áreas que alagaram; é verdade que eu podia passar fome e sede e frio debaixo de um viaduto qualquer; é verdade que eu podia estar há dias sem banho, vestindo roupas rotas e sujas e fétidas; é verdade que eu podia ganhar a vida expondo minhas chagas e aleijões numa calçada do centro da cidade; é verdade que eu podia ter sido órfão e passado necessidades e privações de todos os tipos; é verdade que eu podia ser beneficiário de uma bolsa-qualquer e, assim, ser eleitor do farsante do Lula ou de seus candidatos; é verdade que eu podia não ter estudado em universidade pública e, no máximo, ter me formado numa dessas uniqualquer coisa. Tudo podia ser verdade, mas não é. Nem por isso me sinto desprovido do direito de ser infeliz, de ter minhas tristezas, minhas angústias e minhas frustrações miúdas de classe mé(r)dia. Como se apenas os pobres, negros e fudidos pudessem reclamar do que a vida não lhes deu. Como se a tristeza fosse propriedade privada dos que de quase tudo foram privados. Essa demagogiazinha, ela sim, me cansa profundamente.
Um bom 2010, se ainda for possível.