26 de junho de 2010

Só por Jesus!

Estava eu voltando para casa, hoje, de metrô. Vagão cheio. No meio do trajeto, entra um camarada de camisa listrada (tenho um pé atrás com camisas listradas, já acho que é coisa de festa junina, o que também odeio), fone de ouvido pendurado no pescoço e falando alto, bem alto: "Não, meu querido, você vai ver, ela vai acabar se convencendo que está no caminho do pecado. Porque Jesus vai salvar ela. Sim, por Jesus!", e dava um murro na porta do vagão. Fez isso mais duas ou três vezes. Desligou o celular. Teclou outro número. E tornou a vociferar: "É, porque hoje está um dia lindo, um dia de Jesus. Um sol bonito, calor. Sim, porque eu acho que quando o sábado fica cinzento, é até coisa do...", e hesitou por um segundo. "...acho que deus (sim, para mim é minúsculo), nesses dias nublados, deus está de mau humor. Por Jesus!" E mais um murro na porta.
Pensei comigo: que espécie de divindade é essa que tem bom e mau humor, que faz dias cinzentos ou ensolarados conforme lhe dê na veneta de ter dormido de traseiro de fora da coberta ou não? Que deus é esse em que figuras assim acreditam? O que senti, ali, foi somente ódio e intolerância a quem fosse diferente do molde cristão; um fundamentalismo raivoso, de precisar andar com focinheira e rédea curta. Pior é constatar que ele não é o único, não será o último, mas que sua miopia é compartilhada entre milhões, incluindo gente poderosa e de prestígio, jogadores de futebol e políticos. É esse mundo que está chocando o ovo da serpente. E, sinceramente, não sei que quero estar vivo e fazer parte desse cenário que se desenha mais e mais no horizonte ensolarado de uma divindade tão excessivamente humana.